Dengue, clima e população: existe relação?

  • 30 de abril de 2024
  • Geral
Dengue, clima e população: existe relação?
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MATÉRIA PUBLICADA NA EDIÇÃO IMPRESSA DO DIA 19 DE ABRIL

Na noite da quarta-feira, 17 de abril, o auditório do Bloco A, do Câmpus Cerro Largo, foi palco de uma palestra sobre a dengue, evento promovido pelo curso de Ciências Biológicas, contando com a participação da comunidade acadêmica, bem como de profissionais da saúde do Município de Cerro Largo. O evento teve como mediadores os professores Milton Strieder, Doutor em Zoologia, e Anderson Nedel, Doutor em Meteorologia.

DENGUE – MONITORAMENTO E CONTROLE
O Doutor em Zoologia enalteceu a diversidade de mosquitos exististes no meio ambiente, dentre eles o Aedes aegypti, que é o vetor do vírus da dengue, de quatro sorotipos diferentes, sendo que dois estão circulando na região. ”Esse é um dos motivos pelos quais se tem uma grande dificuldade em se produzir uma vacina”, salientou.

Segundo Milton, o primeiro caso de dengue no Estado foi registrado em Giruá, no ano de 2007. Em Cerro Largo, os primeiros casos começaram a aparecer em 2010. Neste início do ano de 2024, no Município de Cerro Largo, os dados do Painel da Dengue evidenciam que 8% da população local já contraíram a doença. Em nível de País e Estado, a porcentagem da população afetada é em torno de 1%.

Esse número de contaminações com dengue é preocupante e reflete a predominância do mosquito em muitas localidades do País. ”No Brasil, a dengue apresenta ciclos com epidemia explosiva, ocorrendo em média a cada quatro ou cinco anos”, explicou. A partir de 2015, outras doenças começaram a ser transmitidas pelo mesmo mosquito. É o caso da zika vírus e chikungunya.

Hoje, estudos apontam que em cem por cento dos casos a transmissão ocorre pelo mosquito contaminado que é o vetor que transmite o vírus da dengue. De modo geral, o Aedes aegypti contrai a doença ao picar uma pessoa infectada.

Considerado urbano e doméstico, o mosquito A. aegypti possui hábitos diurnos e se desenvolve em água limpa e parada. No ciclo de vida, uma fêmea pode dar a emergência de cerca de mil mosquitos no decorrer da sua vida.

É POSSÍVEL ERRADICAR A DENGUE?
Um dos motivos para a prevalência da doença é o clima tropical, que favorece a proliferação dos mosquitos. Além disso, o professor enalteceu que a urbanização, com crescimento acelerado das cidades, também contribuiu para o seu desenvolvimento, bem como as condições climáticas e a dispersão facilitada do mosquito.

Na ação de combate, o Doutor em Zoologia enalteceu que podem ser implementadas três formas: a mecânica, com produtos biológicos e com produtos químicos. Das três, a principal é a ação de cada pessoa com a limpeza dos seus espaços para não deixar proliferar o mosquito. Além disso, é importante o uso de repelente.

Em 1955, uma ação coletiva da população, apenas com a conscientização, levou a erradicação do mosquito da dengue em solo brasileiro. ”A ação persistente resultante da colaboração de todas as pessoas é uma das saídas para o combate eficiente”, disse Milton.

A INTERFERÊNCIA DO CLIMA
Para o Professor Anderson Nedel, pesquisas sobre a proliferação de mosquitos apontam duas variáveis que são determinantes para a vida desses insetos: a temperatura do ar e a precipitação. ”Percebe-se um aumento no número de mosquitos quando a temperatura do ar está maior”, disse.

São várias as pesquisas que apontam as condições climáticas ideais para a proliferação dos mosquitos. Porém, elas variam de região para região. Em um estudo realizado no Paraná, o ótimo climático ideal ficou entre 19ºC e 32ºC, com umidade do ar entre 50 e 70%.

Nos últimos meses, com a prevalência do El Nino, as chuvas foram mais intensas. Desde setembro de 2023, elas foram mais abundantes, fazendo com que o volume ficasse acima da média histórica. Para a formação das chuvas, o calor também tem um importante papel.

Com o aquecimento global que está sendo presenciado, o professor enalteceu que os episódios de chuva são mais frequentes e em um curto período de tempo, promovendo a proliferação dos insetos em água parada. ”Diante desse cenário, é preciso que cada pessoa cuide e não deixe água acumulada em recipientes ou outros locais. O clima interfere em 40/50% na prevalência dos mosquitos; os outros 50/60% dependem da ação do ser humano em fazer o combate”, disse.

O Meteorologista enalteceu ainda que o mosquito da dengue, natural do clima tropical, tende a se estender para a região com sub-tropical. Além disso, com a perspectiva de aumento médio na temperatura do planeta nos próximos anos, as consequências serão visíveis. ”Teremos cada vez mais episódios de chuvas intensas em um curto período de tempo, bem como a incidência de temporais mais frequentes e ondas de calor”, disse.

A tendência para o próximo mês é de que as temperaturas comecem a cair, e com elas a incidência de mosquitos que terão mais dificuldade em se locomover. As primeiras ondas de frio intenso estão previstas para o final de maio, com frio se estendendo até setembro.

Fonte: Jornal Gazeta Integração