Vítimas de furto e roubo de celular enfrentam uma nova ameaça no Rio Grande do Sul. Além de terem os aparelhos levados pelos bandidos, amargam desvios de dinheiro a partir dos aplicativos de bancos instalados nos aparelhos. A RBS TV identificou quatro vítimas dessa modalidade de crime, na Região Metropolitana e norte do Estado.
De alguma forma, os ladrões conseguem desbloquear os celulares e os aplicativos das vítimas. Uma delas é um comerciante de Estância Velha que teve o aparelho furtado depois de estacionar o carro para almoçar em um restaurante de Sapiranga.
— Quando retornei, questão de 10 minutos depois, para buscar o celular, deparei com o vidro do carro quebrado. Achei que tinha deixado o carro aberto, mas vi que o vidro estava no chão. Procurei celular e carteira, mas não estavam mais lá — conta.
Ele diz ter ativado o mecanismo de reconhecimento facial e senha de seis dígitos no celular, e que mesmo depois de acionar a operadora e bloquear o número, o que pressupõe restrição ao uso do aparelho, percebeu que, no dia seguinte, o telefone foi ligado. O sinal do rastreador indicou a região central de Porto Alegre. Ele não sabe como, mas os bandidos conseguiram entrar no aplicativo do banco e desviar R$ 50 mil.
— Dez minutos depois que saiu o dinheiro da nossa conta, corremos até o banco, falamos com o gerente, e ele disse que não poderia bloquear os valores — relata a vítima.
A mesma coisa aconteceu com uma psicóloga de Porto Alegre. Ela estava no centro de Capão da Canoa, no Litoral Norte, quando esqueceu a bolsa com o celular dentro do carro, que foi arrombado. Ladrões acessaram os aplicativos bancários instalados no aparelho e fizeram até empréstimo, que foi parar em contas de diversas cidades, conforme descobriu na delegacia, gerando um prejuízo de R$ 20 mil.
— Fizeram dois empréstimos em meu nome e fizeram também transferências via Pix — conta a psicóloga, que também tinha cadastrado reconhecimento facial no celular.
A forma como os criminosos conseguem acessar os aparelhos celulares ainda é um mistério para a Delegacia de Crimes Informáticos de Porto Alegre, considerando que os modelos roubados das vítimas citadas nesta reportagem são conhecidos no mercado por apresentarem dispositivo de proteção contra roubo.
— Pode ser que estejam se valendo de alguns instrumentos que tenham capacidade de fazer o desbloqueio. E também contaria com alguma falha na segurança, proporcionada involuntariamente pelo próprio usuário — teoriza o delegado Tiago Albeche.
Especialista em tecnologia, Ronaldo Prass acredita que haja um desbloqueio do sistema de segurança do aparelho, seja da senha numérica ou da biometria.
— A partir daí, como existe um compartilhamento da senha biométrica para todos os aplicativos aos quais o usuário ativou essa opção, os criminosos conseguem acessar também os aplicativos bancários e realizar as operações.
Os advogados de Soledade Anthony Niederle e Jodacir Luiz Perin visitavam um cliente na zona rural de Tabaí, no final de março, quando a casa foi invadida por dois bandidos. Depois de amarrarem as vítimas, os ladrões fugiram levando uma caminhonete e celulares, entre outros itens. Conseguiram não apenas desbloquear os aparelhos de última geração como entrar nos aplicativos dos bancos.
— Existe mais de um tipo de ferramenta para coibir invasão, tanto do aplicativo como do aparelho: biometria, reconhecimento facial e senha. Então, eles conseguiram burlar esses mecanismos de segurança, que são, inclusive, os melhores hoje. Os aplicativos que eles acessaram pedem o reconhecimento facial. Até o envio de documento, quando o próprio aplicativo vê que tem algum indício de fraude, eles burlaram — diz Niederle, intrigado.
Da conta de Perin, os ladrões levaram R$ 35 mil.
— Se eu precisar fazer um Pix de R$ 1 mil, R$ 2 mil, R$ 5 mil, pode ter certeza que vai dar “na trave”. Eu tenho que ligar para o meu gerente. É sempre assim. Agora, eu não entendo como eles fizeram vários Pix de R$ 5 mil cada, um na sequência do outro — questiona.
Para evitar o golpe, especialistas sugerem não repetir senhas e ainda criar camadas extras de proteção, como a autenticação por dois fatores, que exige um segundo código.
— O ideal é manter o mais atualizado possível, jamais negligenciar. Atualizações são um ponto de partida. Senhas: evitar repetir. Se a senha numérica que desbloqueia o celular é a mesma de algum app, por uma questão de comodidade, é uma péssima estratégia. O ideal é variar essas senhas. Biometria sempre, e sempre que possível, autenticação de dois fatores — recomenda Prass.
Fonte: GZH
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