Os emplacamentos de veículos eletrificados (100% elétricos e híbridos) no Rio Grande do Sul seguem em curva exponencial no primeiro trimestre de 2023, conforme levantamento da Associação Brasileira do Veículo Elétrico – a ABVE. O desempenho do Estado para o período foi o melhor desde 2019, quando os dados regionais começaram a ser divulgados pela entidade.
Com 760 novas unidades em circulação este ano, a performance representa alta de 52,9% sobre igual recorte do ano anterior. E a dinâmica fica bastante similar à apurada no país, onde o avanço foi de 55,5% e bateu em 14.787 novos veículos, de janeiro a março. Trata-se do melhor resultado da série histórica, medida nacionalmente desde 2012.
O crescimento do setor não é novidade, porque durante algum tempo a justificativa era sempre a mesma: a fraca base de comparação anterior, em um segmento que engatinhava no Brasil. É que costuma ser fácil obter expansão de 319%, quando ela se verifica na passagem de apenas 117 carros eletrificados, como no caso de 2012, para os 491, em 2013.
Por outro lado, se a dilatação do mercado é de 97%, mas em reflexo de um avanço que parte de 24.990 unidades, em 2021, e atinge 49.245 emplacamentos, em 2022, o cenário muda um pouco de figura. No RS, essa escalada alcançou 27,10%, com 1.897 unidades, em 2021, ante 2.411, no ano passado.
Por isso, Henrique Antunes, diretor do Grupo de Veículos Leves e membro do Conselho Diretor da ABVE garante que a maior disponibilidade de produtos no mercado a cada 12 meses não está mais isolada na condição de única explicação para o desenvolvimento do setor. Pelo contrario, mais conhecimento do público, melhorias recentes na infraestrutura de recarga rápida e diminuição do abismo de preços entre um carro convencional e outro elétricos são algumas das variáveis que influenciam a nova equação e, com isso, começam a gerar, inclusive, oportunidades reais de negócios.
Para se ter uma ideia, dois anos atrás um elétrico podia custar de três a cinco vezes mais do que um igual movido à combustível fóssil. Agora, reforça Antunes, é possível achar diferença de R$ 10 mil na comparação entre um conhecido SUV à diesel (que sai por R$ 250 mil) e um similar híbrido (gasolina ou bateria elétrica), encontrado nas concessionárias por R$ 260 mil, ou seja, um custo apenas 4% superior.
Se, por outro lado, a maior oferta de veículos elétricos no mercado contribui para turbinar as vendas no setor, de outro não encontra a mesma força para sensibilizar a criação de políticas públicas capazes de resolver os problemas de infraestrutura de recarga. No entanto, uma das medidas apontadas por quem atua de perto no mercado já tramita na Câmara dos Deputados dentro do projeto de lei 392/2023.
O texto prevê, por exemplo, a obrigatoriedade de pontos de recarga para carros elétricos em postos de abastecimento nas rodovias federais, bem como a instalação de eletropostos nas estradas que por ventura forem incluídas em editais de concessão à iniciativa privada.
Enquanto isso, no Rio Grande do Sul, o que há de avanço nasce de projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) em universidades (financiados por concessionárias de energia, que por força de regulação necessitam aportar recursos para essa finalidade) e também do entusiasmo de empreendedores e empresas.
A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) participou de duas das principais rotas. Uma já ativa, entre a região central do RS e a Capital. Outra, em desenvolvimento, que ligará o Litoral Norte ao extremo Sul do Estado, servindo de trajeto para ingressar ao Uruguai ou no Estado de Santa Catarina.
A coordenadora do projeto Rota Elétrica Mercosul – Suporte ao Desenvolvimento e Gerenciamento para Mobilidade Inteligente, da UFSM, Alzenira Abaide comenta que a Rota Centro foi responsável pela instalação do primeiro carregador de carga contínua (CC), mais rápida, do Estado (leva entre 30 minutos e uma hora, despendendo do tipo de plug e da necessidade de energia), situado no campus da universidade.
Já o segundo traçado, ainda em fase de implantação, terá mais de 900 quilômetros com o 11 carregadores CCs, com investimentos da CEEE Equatorial. A pretensão, afirma Alzira, é instalar uma microrrede junto central eólica de Osório, com aerogerador e painéis fotovoltaicos para contemplar a demanda total do traçado.
— Não adianta nada ter eletropostos se a energia elétrica utilizada vai ser poluente (caso das termoelétricas acionadas no momento de baixa disponibilidade de reservatórios de água e usam combustíveis fosseis como o carvão mineral, o gás natural ou derivados do petróleo). A transição energética é algo que tem de ser feito — salienta a professora e lembra que a ideia surgiu de uma dissertação de mestrado da universidade para calcular distâncias entre um ponto de recarga e outro com uso de Inteligência Artificial (IA).
De acordo com o dirigente da ABVE, Henrique Antunes, é essa integração de universidades com ações da iniciativa privada que consolidará o modelo de recargas no país, que ainda sequer definiu se irá tributar ou não a energia veicular, atualmente, isenta de cobranças.
— Não creio que teremos problemas com tributação, mas essa infraestrutura elétrica vai avançar no sistema business (negócios) — argumenta, ao lembrar dos planos de implantação da Shell/Raízen e da Petrobras/Vibra, já disponíveis em São Paulo em rodovias como a Via Dutra, mas que devem chegar aos demais estados e elevar a atual disponibilidade de recarga rápida.
Fonte: GZH
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