Polícia aumenta apreensão de drogas sintéticas em 251%

Polícia aumenta apreensão de drogas sintéticas em 251%
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Em apenas cem dias, o Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) do Rio Grande do Sul apreendeu quase 90% do total de ecstasy retirado de traficantes em todo ano passado. Além das drogas sintéticas, outros entorpecentes, como cocaína, crack e maconha, tiveram elevação no montante localizado pelos agentes em comparação com o mesmo período de 2022. A estratégia, focada em descobrir e desmantelar laboratórios clandestinos e depósitos usados para armazenar os narcóticos, está por trás desse salto nas apreensões. O total representa prejuízo estimado em cerca de R$ 25 milhões às facções criminosas.

No início de março, após dois meses de investigação, os policiais descobriram um laboratório de ecstasy na zona norte de Porto Alegre na ação que resultou na maior apreensão da droga já realizada pela Polícia Civil no Estado. Dentro do laboratório, havia 17,2 mil comprimidos de ecstasy, além de 3,3 mil cápsulas para colocação de MDMA (composto utilizado na produção da droga) e outros componentes. A matéria-prima do ecstasy, o MDMA, muitas vezes chega do Rio Grande do Sul vinda de Santa Catarina. As apreensões dessa droga, de maneira geral, ocorreram durante telentregas e festas, ou em residências e depósitos, inclusive em laboratórios, como nesse caso. Nesses pontos clandestinos, são utilizados prensas, maquinários e insumos para a produção dos comprimidos.

— O ecstasy é uma droga silenciosa. Muitas vezes, os pais estão em casa, acham que os filhos estão na festa se divertindo, e estão usando essas substâncias que sequer se sabe a procedência. Infelizmente, vivemos numa sociedade viciada — alerta o diretor do Denarc, delegado Carlos Wendt.

Não raras vezes, quem fabrica esses entorpecentes são os chamados “químicos de internet”, que aprendem a produzir as drogas sintéticas por meio das redes sociais, sem conhecimento técnico. Isso torna o risco do consumo ainda maior, já que a inserção de qualquer substância errada ou quantidade elevada pode levar até mesmo à morte. A polícia vem percebendo a circulação cada vez maior das drogas sintéticas. Nos últimos anos, o Denarc intensificou as ações de combate ao tráfico desse tipo de droga. De janeiro até 10 de abril, foram apreendidos 28,1 mil comprimidos de ecstasy pelo Denarc — em todo ano passado tinham sido 31,4 mil.

— Ano passado já teve números bem robustos de apreensões de ecstasy, em relação a anos anteriores. É fruto de bastante esforço — ressalta o delegado.

Diferentemente de outros entorpecentes, como maconha, cocaína e crack, que costumam ser distribuídos por facções, neste caso, muitas vezes jovens de classe média a alta são flagrados comercializando as drogas sintéticas. O público consumidor também é mais restrito.

— Tem facção que vende droga sintética, tem. Mas a vinculação deles não é tão forte e necessária como de alguém que tem ponto para vender cocaína e crack. As drogas sintéticas estão crescendo cada vez mais, por toda a facilidade de produção. A China é um importante fornecedor desses precursores químicos. Empresas, que trabalham com produtos lícitos, muitas vezes misturam essas cargas, dificultando um pouco a fiscalização. Tem se procurado produzir cada vez mais drogas sintéticas, imitando os efeitos das que não são sintéticas, para que as pessoas tenham a mesma sensação, mas a produção seja facilitada e barateada — explica o delegado.

Depósitos

O crack também apresentou crescimento nesses cem primeiros dias, com 234,3 quilos apreendidos. Num sítio na área rural de Araricá, no Vale do Sinos, no início deste mês, o Denarc apreendeu 96 quilos da droga em residências na propriedade e dentro de toneis. Somente os gerentes da facção criminosa podiam acessar o local descoberto pelos policiais. Dali, o entorpecente seria distribuído a Grande Porto Alegre e ao interior do Estado. Cerca de 10 dias antes, em Novo Hamburgo, tinham sido encontrados 57 quilos de crack. As duas apreensões são consideradas históricas, sendo as maiores já realizadas pela Polícia Civil.

— É uma droga difícil de ser apreendida em grande quantidade. Começamos a focar nos fornecedores e depósitos, em casas e sítios, que usam para armazenar e distribuir em maior escala. Obtivemos êxito em ações, principalmente no Vale do Sinos, em distribuidores de uma facção bem conhecida. Essa quantidade de crack daria para preparar mais de um milhão de pedras que seriam distribuídas nas ruas. E sabemos todas as mazelas que o crack causa — afirma Wendt.

Nesses mesmos dois locais, a polícia também apreendeu 184 quilos de cocaína de origem peruana. Historicamente, a cocaína que chega ao Estado vem de países da América do Sul, como BolíviaColômbia e Peru. A droga é transportada por diversos caminhos, podendo passar pelo Paraná e por Santa Catarina, por via terrestre, mas também por rotas aéreas. O total de cocaína apreendida nesses cem dias teve aumento de 53,3%.

— Essa droga chega na Europa a até 40 mil euros o quilo, podendo atingir US$ 100 mil na Ásia. É um lucro muito grande. Temos focado nos financiadores, que não aparecem muito. Infelizmente, há muitos empresários investindo nesse ramo. Mas cabe alertar que é a maior pena da lei de drogas, exatamente por todo repúdio que se tem que ter a essas pessoas de alto poder aquisitivo que estimulam o tráfico de drogas — diz o diretor do Denarc.

Entre os entorpecentes apreendidos, a maconha ainda representa o maior volume: 1,6 tonelada. O que chama a atenção neste caso é a presença cada vez maior de skunk,  a “supermaconha”, que chega do Uruguai. A droga tem maior concentração de tetraidrocanabinol (THC), componente ativo da planta responsável pelos efeitos alucinógenos. Em razão disso, esse tipo de entorpecente tem valor mais elevado no mercado do tráfico.

Uma das estratégias empregadas pelo Denarc é maior foco na expansão da atuação, para além da Grande Porto Alegre. Além de parcerias com polícias de outros locais, como Santa Catarina e Uruguai, o departamento tem buscado fortalecer a atuação no Interior. O investimento em tecnologia, para identificar criminosos, descapitalizar o crime organizado e combater a lavagem de dinheiro está também entre as formas de atuação.

— Através da descapitalização não só enfraquece essas facções, mas fortalece o Estado porque boa parte desse patrimônio é revertido para as ações de repressão e prevenção ao tráfico de drogas — diz Wendt.