A série documental “Boate Kiss – A Tragédia de Santa Maria“, que relembra o incêndio que vitimou 242 pessoas no Rio Grande do Sul em 27 de janeiro de 2013, estreia nesta quinta-feira (26), no Globoplay. A produção conta com cinco episódios e é conduzida e dirigida pelo repórter da TV Globo Marcelo Canellas. Tem como parceira a TV OVO, coletivo audiovisual de Santa Maria.
Dez anos depois do incêndio, a série refaz, passo a passo, a sucessão de acontecimentos que levaram à morte de jovens, a dor das famílias e dos sobreviventes e o processo judicial, trazendo imagens inéditas.
Responsável pela série, o gaúcho de Passo Fundo, Marcelo Canellas morou por muitos anos em Santa Maria, por isso, tem um envolvimento pessoal com a cidade e o incêndio.
Em entrevista ao g1, Canellas explicou que a ideia inicial era construir a série com o julgamento dos quatro réus pelo incêndio como pano de fundo. Mas, com a anulação do júri, a narrativa precisou ser conduzida de outra forma.
“Nós remodelamos a série e contemplamos essa ideia de que esse processo é um processo sem fim. Esse processo é um processo que revitimiza o tempo todo. É um processo que impõe sofrimento o tempo todo. E inclusive na trajetória da luta das famílias por justiça, porque o documentário é basicamente a história da luta por justiça de um grupo de pais, mães e sobreviventes”, conta.
O julgamento de quatro réus pelo incêndio na Boate Kiss ocorreu entre os dias 1º e 10 de dezembro de 2021. Marcelo de Jesus dos Santos, Luciano Bonilha Leão, Elissandro Spohr e Mauro Londero Hoffmann foram condenados a penas que variavam de 18 a 22 anos de prisão. Porém, os advogados de defesa dos quatro alegaram nulidades no processo e a justiça determinou a anulação. Uma nova data ainda deve ser marcada.
“O judiciário não deu conta de dar uma resposta rápida para essas pessoas. Isso fica claro e a gente mostra isso no documentário. Porque não é possível que passados nove anos se faça um julgamento e que você chega pras famílias e diz pra elas: ‘não valeu’, e vocês vão esperar mais não sei quanto tempo. Tudo isso o documentário mostra, essa evolução do transcorrer das lutas e das famílias até um final sem final”, diz Canellas.
“Eu acho que Santa Maria e a tragédia é muito o espelho do nosso país. É muito a maneira como a gente enfrenta as nossas dores, as nossas tragédias. São tragédias recorrentes, que se repetem e a vocação brasileira, de jogar os responsáveis pra debaixo do tapete, persiste.”
A produção da série documental durou cerca de um ano e meio.
Canellas fez faculdade na mesma universidade em que muitos jovens que morreram no incêndio estudaram, a UFSM. Ele diz que foi na cidade que se formou como pessoa.
“Esse meu passado universitário em Santa Maria é uma das razões pelas quais eu acho que nunca fiz nada que tivesse tanto a ver comigo quanto esse documentário. Já são 35 anos de profissão mas eu posso te dizer que eu nunca me identifiquei tanto com as circunstâncias de um fato quanto me identifico com esse fato. Esse meu envolvimento ultrapassa o envolvimento de repórter e agora como diretor do documentário é de cidadão de Santa Maria, por conta da adoção e da minha relação afetiva com a cidade”, diz
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Por ter participado ativamente da vida universitária, presidindo diretórios acadêmicos e na vida noturna, o jornalista diz que muitos vezes se viu nos jovens que morreram no incêndio da boate.
Segundo Canellas, o local funcionou durante décadas e só foi fechado meses antes do incêndio da Kiss.
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